19 de outubro de 2011

O Terço, oração repetitiva?



Certamente. Mas, o que no mundo que não se repete? Os astros percorrem sempre a mesma órbita. A terra gira sempre em torno do mesmo eixo. Os dias e as noites se sucedem sempre da mesma forma. As estações, os anos, os meses, os dias… obedecem sempre ao mesmo ciclo. As aves cantam sempre o mesmo canto. As árvores produzem sempre as mesmas flores e os mesmos frutos. Os animais e os seres humanos se multiplicam sempre da mesma forma. O coração bate no peito sempre do mesmo jeito. O sangue percorre sempre as mesmas veias… E quando queremos bem a alguém, nunca nos cansamos de dizer sempre a mesma palavra: eu te amo! Os anjos e os santos no paraíso cantam pela eternidade afora: Aleluia! Aleluia! Santo, santo, santo!…

Se assim é, por que em nossa oração, não deveríamos ouvir sempre a mesma Palavra de Deus, renovar sempre o mesmo Sacrifício e a mesma Ceia, repetir sempre o mesmo gesto de amor, balbuciar sempre a mesma invocação? Foi Deus quem nos fez assim, foi Jesus quem mandou que fosse assim, por que admirar-se de que sejamos assim? Tudo depende da qualidade do amor que nós colocamos naquilo que, ao longo da vida, podemos e devemos repetir milhares de vezes. O amor nunca se cansa, como o olho não se cansa de ver, o ouvido não se cansa de ouvir, o paladar não se cansa de saborear… Pelo contrário, na vida humana, a sucessão dos mesmos atos leva à aprendizagem, ao aprofundamento, à concentração.

O Terço de Nossa Senhora é a expressão concreta dessa realidade. Enquanto com a boca repetimos o Pai Nosso e a Ave Maria, a mente percorre, com Jesus, os mistérios de sua vida, paixão, morte, ressurreição e glorificação; e com Maria, os acontecimentos dos quais Ela participou, unida a seu Filho e à sua Igreja. Tudo adquire seu sentido na medida em que procuramos concentrar a atenção em Jesus, aprofundar o sentido de sua vida, manifestar o nosso amor a Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e a Nossa Senhora. Esta forma de fazer oração é tão antiga quanto a humanidade. Ela existe em todas as religiões, em todos os cultos, porque corresponde ao nosso modo humano de relacionamento com os outros e com Deus. No cristianismo, o costume de repetir a mesma invocação data desde os seus inícios.

O próprio Jesus nos ensinou a insistir em nossa oração até sermos atendidos. O Evangelho nos refere diversas palavras de Jesus, episódios em sua vida e parábolas que incutem essa maneira de fazer oração. Com o tempo, surgiram meios concretos de organizar esse tipo de oração, como são hoje os nossos terços e rosários feitos de todo tipo de material.

Quando Jesus nos adverte que não devemos repetir nossa oração como fazem os pagãos, Ele não condena a repetição da oração – do quê Ele nos deixou exemplos e mandamentos – mas condena o modo de fazer próprio dos pagãos, ou seja, a repetição pela repetição, sem o conteúdo do amor do coração, a repetição mágica, as palavras estéreis que não atingem o coração do verdadeiro Deus.

Que durante a recitação do Terço aconteçam distrações, é normal. Isso ocorre em qualquer oração, não somente no Terço: faz parte da nossa fraqueza. Deus não repara nisso, desde que não haja má vontade; Ele sabe de quê somos feitos… Pois bem, reze o Terço; podendo, reze o Rosário inteiro. Ponha nele todo o seu amor a Jesus e Maria, procure concentrar-se na meditação dos mistérios da nossa Salvação. É este um caminho de santificação recomendado pela Igreja, em particular pelos Papas e pelos Santos.

Em 16 de outubro de 2002, o Beato João Paulo II dirigiu a toda a Igreja uma carta recomendado a oração do Terço ou do Rosário. A carta começa assim: “O Rosário da Virgem Maria… na sua simplicidade e profundidade, permanece… uma oração de grande significado e destinada a produzir frutos de santidade… Na sobriedade dos seus elementos, concentra a profundidade de toda a mensagem evangélica, da qual é quase um compêndio. Nele ecoa a oração de Maria, o seu perene Magnificat pela obra da Encarnação redentora iniciada no seu ventre virginal. Com ele, o povo cristão frequenta a escola de Maria, para deixar-se introduzir na contemplação da beleza do rosto de Cristo e na experiência da profundidade do seu amor. Mediante o Rosário, o fiel alcança a graça em abundância, como se a recebesse das mesmas mãos da Mãe do Redentor”.

O mês de outubro é dedicado ao Rosário de Nossa Senhora. Não deixe de invocá-la por meio da oração diária do santo Terço. O Terço é uma espécie de “corrente” que liga a terra com o céu pelas mãos de Maria. Ela mesma, em Lurdes e Fátima, pediu que rezássemos o Terço. Atenda você também o pedido de nossa santa Mãe!




Dom Hilário Moser, SDB
Bispo emérito da Diocese de Tubarão (SC)

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